Parece um sonho!
Parece um sonho que há exato um ano, Luquinha estava chegando aos Estados Unidos, depois de um ano de batalha judicial para poder conseguir tirá-lo do Brasil...
A história foi mais ou menos a seguinte:
Tendo sido mae solteira de Lucas, tive que criá-lo só com a ajuda de minha mae durante muitos anos... mas para meu infortúnio, o "pai" dele o registrou com seu nome (usar aqui a palavra pai para a pessoa que me ajudou a dar-lhe a vida é até um insulto depois do que ele fez, mas nao me resta outra...)...
Confesso que ter o nome do pai na certidao de nascimento de Lucas nunca foi um problema, pelo contrário, até era bom no sentido de que ele nao tinha que passar alguns inconvenientes como às vezes passam algumas crianças pelo fato de, na certidao, levar o nome de "pai desconhecido" ou algo semelhante...
O problema veio quando, na minha inocência (por desconhecimento completo do tema) tentei tirar o passaporte de Lucas para que ele pudesse vir comigo para os Estados Unidos... aí sim, começou a minha novela, que mais pareceu um destes dramalhoes mexicanos que costumamos ver nas tvs do Brasil e também por aqui...
Toda contente cheguei na Polícia Federal com toda a documentaçao necessária para tirar o passaporte de Luquinha, quando, para minha surpresa, o oficial disse que faltava a autorizaçao de viagem assinada pelo pai. Eu nao compreendia como uma pessoa que nunca fez um nada para ajudar a criá-lo, que desapareceu no mundo sem deixar rastros, fosse naquele momento, pessoa tao importante a ponto de impedir o meu intento!
Procurei, entao, informaçoes de como conseguir esta autorizaçao, uma vez que o paradeiro do seu pai era desconhecido e entao me disseram que eu teria que entrar com uma petiçao no Juizado da Infância e Juventude e o juiz assinaria a autorizaçao em nome do pai ausente... pareceu-me simples... simples??? só entao foi que começou a novela...
Fui no Juizado, dei entrada na documentaçao que me pediram, e só entao nos demos conta de uma coisa que nao sabíamos até entao... que meu nome estava digitado errado na certidao de nascimento de Lucas... o meu Carmem acaba com M e ali estava que acabava com N e isso tinha que ser resolvido antes da emissao do passaporte, pois nao podia haver nenhuma discrepância entre os dois documentos... O problema? O problema é que morávamos já em Aracaju, Sergipe, Nordeste do Brasil e Lucas nasceu em Goiânia, Goiás, Centro-Oeste do Brasil e alguém já viu o tamanho do Brasil?
Consegui, graças ao meu amigo Thiago Augusto, advogado recém-formado e com muita disposiçao e boa vontade em ajudar-me, que o Cartório de Registros de Goiânia aceitasse a documentaçao enviada por correio, depois, claro que houvesse todo um juízo para corrigir o meu nome que estava digitado equivocado, o que, pasmem, nao levou menos de 3 meses.. só para trocar uma letrinha...
Voltando ao Juizado de Infância e Juventude, ali me disseram que nao me preocupasse que o trâmite todo nao ultrapassava os 60 dias... 60 dias??? multiplicados por quantos??? isso foi o que me "esqueceram" de dizer... Todo o processo constava em publicar em Edital a busca pelo pai desaparecido, o que levava mais ou menos 30 a 40 dias e depois disso o juiz firmar a sentença para que a autorizaçao fosse emitida, e, com ela, finalmente, o passaporte...
Mas para que vejam a burocracia como funciona no Brasil, este processo de 60 dias, durou, nada mais, nada menos que 360 dias... ou seja, os 60 iniciais, que me foram informados, multiplicados por 6, pois neste meio tempo, os juizes tinham que tirar férias de verao e férias de inverno, tinha que haver greve da Justiça, entre outras tantas coisas que já nem me lembro, ou que me bloqueei para nao lembrar, para nao morrer de raiva...
O detalhe da história? Eu já estava nos Estados Unidos, fazendo tudo isso via procuraçao deixada para meu irmao e minha mae que todas as semanas, durante quase um ano, estiveram pressionando a "Justiça" para que o processo fosse finalizado...
Eu bem compreendo que há que haver um cuidado redobrado no problema de saída de menores de idade do Brasil, uma vez que há muito tráfico infantil... mas o problema maior está em que eu, mae legítima, enfrentei uma dificuldade tao absurda para ter o meu filho junto comigo, enquanto traficantes entram e saem com crianças sequestradas todos os dias, do país, e ninguém se dá conta... ninguém vê!!! Mas a mim, sim, me viram...
Resultado foi que quando já estava para completar um ano de trâmite na Justiça, lá teve que entrar o meu querido Thiago outra vez na história para poder ajudar na finalizaçao do processo, pressionando, agora ele, como advogado, para que o processo fosse finalizado!
Enfim, em abril de 2004, um ano depois de ter dado entrada na documentaçao no Juizado, finalmente a autorizaçao foi liberada... O Juiz de Direito da Vara de Infäncia e Juventude de Aracaju, Sergipe, finalmente autorizava a que MEU filho saísse do Brasil para vir viver na MINHA companhia... Graças a Deus!!! Graças a Deus? Mas e o restante do drama? Ai, ai, ai... este estava ainda por começar...
De posse do passaporte em maos, da autorizaçao de viagem e tudo mais, era chegada a hora de ir ao Consulado dos Estados Unidos para conseguir o seu visto de dependente do meu esposo, um visto como o meu H-4... coisa aparentemente simples, uma vez que é uma obrigaçao do Consulado emitir estes vistos de dependentes de trabalhadores H-1, e nao um favor que nos fazem... mas parece que esqueceram de dizer isso aos oficiais do Consulado dos Estados Unidos em Recife...
De posse de toda a documentaçao exigida, minha, do próprio Lucas e de Rafael, meu esposo, chegaram ao Consulado, Lucas e meu irmao, na condiçao de meu representante legal no Brasil... Lucas foi todo bonito, todo perfumado, todo educadinho e chegando lá disseram NAO, negaram-lhe o visto... disseram que o tio nao podia acompanhá-lo que tinha que ser a mae (eu, na época com 8 meses de gravidez) ou o pai (de novo o pai desaparecido)... e disseram mais... que Rafael teria que ser ou seu pai legítimo, ou que tivesse adotado a Lucas legalmente, perante a Justiça...
Nova novela... lá fomos nós entrar em contato direto com a Embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, em Brasília, com o Congresso Nacional aqui nos Estados Unidos e com o Departamento de Imigraçoes daqui que insistia em que o Consulado estava equivocado, enquanto o Consulado insistia de que todos, menos eles, estavam equivocados...
Depois de muita peleja, de muita confusao, de muito vai prá lá e vem prá cá, lá foi Rafael de viagem ao Brasil, depois que recebemos uma chamada do próprio Consulado de Recife, dizendo que Lucas comparecesse ali juntamente com o padrasto e tudo ia ser resolvido (claro, eles já tinham levado um puxao de orelha da Embaixadora, do Departamento de Imigraçoes daqui e da Congressista Zoe nao sei quê - me esqueci o sobrenome-, a quem sou eternamente grata pela ajuda)...
Ok... tudo resolvido... como? tudo resolvido?!!! Recebo uma chamada de minha mae dizendo que entrasse em contato com o Consulado outra vez porque nada havia sido resolvido, que lhe haviam negado o visto outra vez... (?????) mas como? Nao já estava tudo certo? Pois é... os brutos dos policiais que ficam na entrada do Consulado nao deixaram Rafael entrar, somente a Lucas, e quando Lucas se aprensentou, disseram que sem o padrasto presente, nada feito, mandaram sair e pronto...
Liguei para o Consulado, falei com a pessoa encarregada por este caso e ela já estava desesperada querendo saber onde podiam encontrar, em Recife, naquele mesmo momento, a Lucas e a Rafael para que eles pudessem voltar de urgência ao Consulado porque a própria Cônsul (que voltou a levar um puxao de orelha) ia atendê-los e emitir o visto no mesmo momento... Consegui localizá-los e ao final do dia, recebi, finalmente, uma chamada positiva... minha mae me chamava para dizer que tudo havia sido resolvido, afinal... Isto já era dia 21 de Julho de 2004...1 ano e 3 meses depois do início de todo o processo...
E finalmente, a 29 de Julho de 2004 Lucas pode aparecer com sua carinha sorridente diante de minha porta, para abraçar-me e eu a ele, depois de um ano e meio de tristezas, separaçao e saudades imensas, lágrimas e desespero...
E por que lhes conto tudo isso? Porque hoje eu SOU FELIZ, MUITO FELIZ, porque tenho minha família comigo... uma família linda, meu esposo maravilhoso, meu Luquinha que hoje é quase um homem já e muito educado e bom e minha filha linda, Carmen Letícia, que veio para completar a nossa felicidade!
Hoje eu digo que toda esta história parece um sonho... mas para mim sim, é um sonho... um SONHO REALIZADO!
Um lindo fim de semana para todos!
Muitos beijos, muitas flores e muitos, muitos, muitos sorrisos!!!