Thursday, February 03, 2005

O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

(Cora Coralina)

SOBRE A AUTORA:

Cora Coralina (Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas), 20/08/1889 — 10/04/1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP). Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

11 Deixaram aqui suas Palavra(s) de Amor:

Pecola

Engraçado.. fez.me lembrar Restolho, da Mafalda Veiga:

Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

Monalisa

Quanta força nestas palavras! Quanta sintonia com o mundo. Bonito momento. Quero também agradecer-te ( como se isto fossem coisas que se agradecem... ) o teu carinho e simpatia. Beijo

BlueShell

Um poema lindíssimo...não conhecia.
Sim, estou a tentar superar, a tentar refazer a minha vida....mas dói tanto...jinho, BShell

Micas

Poema belissimo, de palavras profundas. Gostei imenso. Beijinho e um bom fim de semana.

SL

Passei para te deixar um jinho de bons dias!
:)
Jinhos grandes.

Menina Marota

Um grande Poema... não conhecia, mas ele consagra a Vida e o Amor. Obrigada pela tua visita, e pelas tuas palavras. Um jinho e bom de semana e um optimo Carnaval. Que te divirtas!
:-)))

http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

Estrela do mar

...que lindo o que acabei de ler...pois o Brasil...também é "terra" de grandes poetas e poetisas...
Venho-te dizer...que és uma doce surpresa no meu cantinho...obrigada amiguinha, e continua a aparecer...


Um beijinho* grande.

Cacusso

Cora Coralina ao seu melhor nível.
Lindíssimo.
Obrigado pelo momento.
Uma semana feliz!

Å®t Øf £övë

Passei para te desejar uma boa semana.
Bjs.

Nothingandall

Bonito poema esse "Cântico da Terra" fonte da vida e do amor. Muito interessante colocares algumas informções sobre a autora que, confesso, não conhecia. Um beijo de Portugal.

Anonymous

Sou amante dos poemas de Cora e vou deixar aqui para seus leitores um que escrevi especialmente para ela.

CORA CORALINA

E de Ana, fez-se Cora
A doceira e poetisa
Doce Cora Coralina
Fez-se sábia quando bisa
E na busca do sustento
Ocultou o seu lamento

Ana, filha censurada
A vender o seu jasmim
Pelos cantos de Goiás
Semeou o seu jardim

E na rua empedrada
Escrevia poesia
Velha Cora descoberta
Pela alma de um poeta

Hoje é Cora iluminada
Alma de anjo escritor
Na ternura de uma flor
Doce Cora eternizada
(Izildinha Rodrigues)

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